Noite memorável para quem recebeu o Axé do Largo Quincas Berro d’Água, Pelourinho, na sexta-feira (14/01/22). O Projeto Axé Pra Quem Vier, matou a saudade de muita gente que veio pra curtir na Bahia, mesmo em meio a pandemia que nos espreita. Apesar do pouco caso com o uso das máscaras pelo menos todos estavam vacinados, pois essas foram as exigências para acessar o largo. Mas a vacina que combate o vírus não mata o sentimento de quarta-feira de cinzas que há dois anos vem nos amargando a boca. Isso ficou por conta da Banda 2 Tons e Meio, que abriu a noite com interpretações por vezes jazzísticas da nossa festa, e de Pablo Moraes, que a encerrou com a melhor simulação da Praça Castro Alves em dias de Carnavais.
A Banda 2 Tons e Meio se mostrou uma quarta justa em plena sexta-feira no Pelourinho. Não entendeu? Peça para o baixista Ronaldo Borges explicar o nome da banda, formada também por Luis Carlos na guitarra, Gilberto Filho no Vocal e Burica Coelho na percuteria. “De Dó a Ré, nós temos um tom. Já de Ré para Mí, temos um segundo tom. Como de Mí para Fá nós temos meio tom, analisando a partitura musical o nome da banda é uma quarta justa”. Tão vendo!? Ronaldo é muito melhor tocando.
Preciso, luxuoso e aveludado (lá ele!), o baixo de Ronaldo Borges ecoou no céu do Pelô. No repertório, a nata do axé, pop rock, mpb, reggae em releituras jazzísticas. Chão da Praça, de Moraes Moreira, ganhou uma roupagem salsa/merengue que fez a Quincas balançar a cada marcação do baixo de Ronaldo, que bate no coração e que tem o dom de encantar. Como um Ijexá.
E nessa levada sucessos como Na Ilha Grande, Muito Obrigado Axé, Baianidade Nagô, foram repaginados só pra te lembrar do tempo em que viver era só festejar. Foi quando a guitarra de Luis Carlos fez um vôo rasante pela Selva Branca que povoa o Centro Histórico nesses dias de Verão. Botou a galera pra viajar. Lá pras tantas Pierre Onasis, o “afro-disíaco”, deu o ar da graça e ofereceu um encontro inesquecível com a banda 2 Tons e Meio. Levou até Tom Dantas, músico baiano radicado na França, “pra dar uma canja”, fazendo tudo o que foi preciso para colocar a noite no Topo do Mundo. E ainda tinha Pablo Moraes pela frente.
Quando o cantor e compositor Pablo Moraes assumiu o Largo Quincas Berro d'Água, por volta das 22h, foi logo apresentando o cartão de visitas do projeto Axé Pra Quem Vier: Gilberto Gil e Caetano Veloso, com Palco e Você não Entende Nada. Quem estava na plateia, entendeu logo o que estava prestes a sair daquele palco. O arriar das malas de Pablo Moraes foi o suficiente para fazer todo mundo levantar das cadeiras e ocupar os espaços vazios; e às vezes, mais de um espaço vazio ao mesmo tempo. Ainda mais com aquela banda swingada formada por Anselmo Campelo no baixo, Bruno Michel na guitarra e Will Wagner na batera.
A galera pulou pesado na Quincas ao som de muito afoxé, reggae, xote, funk e ... .nem sei mais o quê! Pablo preparou um repertório pra bater na memória afetiva de qualquer baiano, seja ele nascido ou por opção: Nossa gente, do Olodum; Preciso Dormir Princesa, do Chiclete Com Banana; Depois Que O Ilê Passar, do Ilê Aiyê; Protesto do Olodum, aquela do “ E Lá Vou Eu”, desfilavam em releituras criadas para o público se sentir como nos velhos tempos de 2020. Nosso último Carnaval.
Beleza Pura, do A Cor do Som; Preta Pretinha, dos Novos Baianos, e Pombo Correio, de Moraes Moreiras, eletrizaram a galera como se o palco fosse um trio. Aí a gente lembra que Pablo é sobrinho de Moraes Moreira, o primeiro cantor de Trio Elétrico do mundo. Do mundo, não. Da Bahia! O resultado não poderia ser outro. Tal qual uma quarta-feira de cinzas, o povo se recusou a deixar a praça quando o show terminou.
Ficha:
O quê: PROJETO AXÉ PRA QUEM VIER, com Pablo Moraes e banda Dois Tons e Meio
Quando: Sexta-Feira (14 de janeiro), a partir das 20:00h
Onde: Largo Quincas Berro D'Água (Pelourinho)
Quanto: Entrada gratuita
O PROJETO AXÉ PRA QUEM VIER, com Pablo Moraes, conta com o patrocínio da Bahiatursa e faz parte da programação do Projeto Pelô da Bahia, que integra a estrutura do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI/Secretaria de Cultura do Estado da Bahia) na promoção da diversidade cultural, de forma acessível ou gratuita, nos espaços culturais do Pelourinho.