Sábado (02/03/22) foi uma noite memorável para o panorama percussivo baiano. O Projeto Batuque de Rua reuniu os grupos Oficina de Sons e Atabasabar, às 20h no Largo Pedro Arcanjo, para um show que reuniu muita técnica e inspiração. Na verdade, fruto dos estudos desenvolvidos por cada grupo, sobre as influências das culturas tradicionais africanas, suas vertentes afro-brasileiras, através de seus instrumentos de percussão. O Oficina de Sons, uma verdadeira orquestra percussiva que ecoa nas paredes do Centro Histórico com a grandiosidade de uma escola de samba. E o Atabasabar, com suas construções rítmicas de forte influência Senegalesa, e sonoridade eletropercussiva. Um banquete para os amantes da percussão.
A Oficina de Sons abriu a noite com um cortejo do Terreiro de Jesus ao Largo Pedro Arcanjo, com um samba enredo de ijexás e batucadas pra batuqueiro nenhum botar defeito. A bateria, predominantemente feminina, foi idealizada pela percussionista Poliana Coelho, a primeira mulher bacharel em percussão pela Escola de Música da Universidade Federal da Bahia. O cortejo, composto por cerca de vinte e oito (28) batuqueiras, foi arregimentando o público pelo meio do caminho. Mas é no palco, e na plateia, que a Oficina de Sons revela toda a potência de sua bateria.
Uma vez no Largo Pedro Arcanjo, a Oficina de Sons se projeta do palco para a plateia como um abraço ao seu público, com surdos e caixas de um lado, agogôs e pandeiro do outro. Dá pra sentir a bateria ecoando pelo corpo, e quando se vê, já estamos dançando ao som do melhor da Música Popular Brasileira. Vatapá, de Dorival Caymmi, Várias Queixas, do Olodum, Sonho Meu, de Dona Ivone Lara, Vazio, de Nelson Rufino. O rico repertório da Oficina de Sons, temperado com muito samba reggae, samba de roda, capoeira, cirandas e ijexás.
No show seguinte, o grupo Atabasabar mostra todas as sonoridades possíveis, e impossíveis a partir de instrumentos de percussão africanos como, Bathum, Thiol, Bueng -Bueng, Atabaques, Gan, Grandalhona, Nanicos Drums. Tudo isso misturado a guitarras, bateria, baixo e teclado. Atabasabar é o nome do instrumento criado pelo grupo, uma espécie de tambor estruturado a partir do Atabaque brasileiro, mas com técnica de montagem e afinação do Sabar Senegales. Atabasabar é a mistura do atabaque e do Sabar. Mas as surpresas do grupo não param em suas invenções.
Entre os muitos convidados, o Atabasabar chamou uma voz especial. Harley abriu sua participação com Olhos Coloridos, de Sandra de Sá, e depois cantou Simples Desejo, de Luciana Mello, pra que a noite termine bem. Também com o auxílio luxuoso da percussão do Atabasabar, a noite fluiu serena mesmo diante da ameaça de chuva. Destaque para Hoje Eu Quero Sair Só, de Lenine, com um arranjo mágico e pulsante para uma interpretação segura e cheia de vocalizações. O Atabasabar possui uma musicalidade diferente, ora marcada e vibrante, outra onírica e quase lisérgica. Batucada de régua e compasso!
O Batuque de Rua, com Oficina de Sons e Atabasabar, é um patrocínio da Bahiatursa que faz parte da programação do Projeto Pelô da Bahia, que integra a estrutura do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI/Secretaria de Cultura do Estado da Bahia) na promoção da diversidade cultural, de forma acessível ou gratuita, nos espaços culturais do Pelourinho.