Lugar de Fala!


O Projeto Baile de Todas as Cores transformou o Largo Quincas Berro d’Água em Lugar de Fala. Sempre se fala sobre o baile, das músicas, das danças, das cores, dos multi gêneros, mas nunca se fala sobre os discursos. Sobre o que foi dito. E sobre o que o Baile de Todas as Cores da noite de sábado (19/03/22) nos falou? A abertura foi com o coletivo Família Tríplice, que nos falou da violência, do racismo e da esperança do jovem negro favelado da periferia. Depois, Aila Menezes nos falou sobre a luta da mulher, do negro, do povo  LGBTQIA + contra todas as formas de opressão, reafirmando o compromisso, como artista, de lutar pelas causas sociais e de direitos humanos. Quem prestou a atenção no Baile de Todas as Cores, assistiu a um espetáculo de palestra em meio a muita dança e música pra pensar brasileira.






Tá sempre calor pra quem vive na chapa quente. O coletivo Hip Hop Família Tríplice vem de Lauro de Freitas, Portão, Região Metropolitana de Salvador. Jovens, negros da periferia que moram em favelas e que estão sobrevivendo as estatísticas graças ao movimento de transformação social através da música, da dança, da arte, que desenvolvem. 




Procure conhecer esses jovens, nas redes sociais. Rilk MC, Junior MC e Rafael Rocha, as faces que primeiro aparecem do movimento, representam o sonho de toda uma massa periférica de jovens de ter uma vida digna em lugares em que “a única política pública que chega é a bala!”. 




Tá calor demais, para esses jovens! Sonhar em ligar para aquela Pretinha do Bronze, como Udi Santos, e de dizer aquelas coisas a noite toda, só em momentos brilhantes como no show de sábado. A Família Tríplice usa o palco para falar com jovens que estão morrendo na escuridão, antes mesmo de brilharem. Vidas negras importam! 






O que Aila Menezes fala, nos encanta. E o que ela canta nos fala da Alma Feminina, da mulher guerreira que canta para mostrar a cara. A cara de quem não pode parar de cantar contra todos os tipos de opressão que existem. Aila começa falando da luta do povo negro através do Ilê Ayê, símbolo de resistência perseguido nas ruas para calar seu grito de protesto contra o racismo. 




Da Liberdade ao povo do Pelô, Aila Menezes nos fala do  Protesto Olodum, para encontrar Negra Jho na plateia dançando ao som de Faraó e Alfabeto do Negão. E na dança de Jho, mais uma vez a alma feminina nos fala, com carinho e a ternura que É d'Oxum, e com o espírito guerreiro de Iansã, para Oyá Por Nós. Da alma masculina, Aila nos fala através de Sahy Rizi, cantando Homem com H, pra depois nos dizer sobre a diferença entre Amor e Sexo: Amor é bossa nova. Sexo é Carnaval! 




Aila Menezes nos fala ainda de Cazuza, sobre o futuro que sempre repete o passado em um tempo que não para, transformando o mundo inteiro em um puteiro para se ganhar mais dinheiro. Fala também de Renato Russo, procurando por luzes em meio a escuridão que perdura ainda hoje. E falando, Aila chora. Não pode ser este um tempo perdido. Afinal, somos tão jovens. Para Aila Menezes, o papel do baile é jogar novas cores neste mundo em preto e branco e firmar seu compromisso através da arte. “É pra isto que a arte é feita!”





Afrontosa, como ela é, Aila Menezes joga na cara da sociedade toda a abundância de seu Pagode Latino; sua criação na luta pelo protagonismo feminino no misógino mercado do Pagodão. “Capitalismo Fudido!”. E pode empurrar que balança, porque Aila bota o baile pra ferver com Trio Metal, para o desespero dos seguranças que tentavam acompanhá-la no meio do povo, em catarse com seu público. 




Chega o momento mais esperado do Baile de Todas as Cores, a cantora Majur, com quem Aila Menezes dividiu o palco para o dueto de Náufrago. Negra, não-binário e nascida na periferia de Salvador, Majur explodiu no mercado com seu EP Colorir. Bem ao gosto do Baile. Majur ficou tão à vontade no baile, a ponto de soltar seu famoso agudo, em Sujeito de Sorte, destacando sua completa identificação com o público. 




Aí Aila nos fala que o Brasil é o país que mais mata o público LGBTQIA + no mundo, e a Bahia está entre os cinco estados mais violentos. Mais uma vez ela joga na cara da sociedade seu dueto com a bailarina Gisele Soares. Um dueto com fragrância de Ananda em movimentos de sereias, que dançam como destemidas Iaras sobre os automóveis de Roma. O som de Aila te cega, caretas, quem são vocês que não viram o baile balançando o Pelô?










O PROJETO BAILE DE TODAS AS CORES, com Aila Menezes e abertura com a Família Tríplice e participação de Majur, conta com o patrocínio da Bahiatursa e faz parte da programação do Projeto Pelô da Bahia, que integra a estrutura do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI/Secretaria de Cultura do Estado da Bahia) na promoção da diversidade cultural, de forma acessível ou gratuita, nos espaços culturais do Pelourinho.


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